Sociedade participará da cadeia do lixo
Luiz Guarnieri/Futura Press Lixo acumulado próximo ao Pátio do Colégio, na região central de São Paulo
Helton Simões Gomes
brasil@eband.com.br
Aguardando apenas a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Política Nacional de Resíduos Sólidos estabelecerá normas que até então o setor não tinha. “A lei vai criar uma nova cultura de como se encara o resíduo no Brasil”, declara Sérgio Gonçalves, diretor de Ambiente Urbano do MMA (Ministério do Meio Ambiente).A nova legislação foi aprovada no início deste mês nas comissões mistas do Senado depois de tramitar mais de 19 anos no Congresso. Mesmo com a demora, a lei, que acabará com os lixões, chega em boa hora. A condição do lixo no Brasil não é das melhores. “Hoje temos um déficit bastante grande”, conta Carlos Roberto Vieira Silva Filho, diretor executivo Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais). Das 57 milhões de toneladas produzidas em 2009, foram coletadas 50 milhões. Deste montante, 43% foi depositado em lugar inadequado.
A situação tende a piorar. “Enquanto a população cresceu 1% no ano passado, o aumento de resíduos foi de 8%”, estima Vieira. “Com a nova vigência, espera-se que consigamos reverter esse cenário”. Num primeiro momento, a produção de resíduos caminharia no mesmo ritmo em que a população avança. E depois, a produção per capita diminuiria.
Responsabilidade compartilhada
Com instrumentos como a oficialização da reciclagem, a logística reversa na indústria e o reaproveitamento de materiais antes de retirar novos insumos da natureza, a nova lei, acreditam os especialistas, trará a noção de responsabilidade compartilhada tanto na geração quanto na destinação do lixo. “Todo mundo vai ter que participar. Cidadãos, sociedade civil, setor produtivo e o poder público”, explica Vieira.
A nova política incentivará, em ordem de prioridade, a redução da geração de lixo, a reutilização, a reciclagem e, só depois, o depósito em aterros sanitários ou a queima. Sérgio Gonçalves, do MMA, conta que, assim que a lei for sancionada, o governo se reunirá com o setor produtivo para elaborar acordos setoriais que fixem as formas de colocá-la em prática.
As empresas terão que traçar uma cadeia de produção para resgatar o material que não pode ser reciclado e agride o meio ambiente, implantando a chamada logística reversa. Pilhas, baterias, lâmpadas, pneus e computadores terão que ser recolhidos pelo fabricante ao final de sua vida útil. Além disso, serão estipuladas metas de recolhimento. “[A lei] Traz o setor produtivo para participar do sistema de gestão do lixo, ao invés de simplesmente se utilizar dele como hoje é feito”, conta o diretor executivo da Abrelpe.
Responsáveis por colocar as medidas em prática, os municípios poderão se unir em consórcios para, aumentando o volume de resíduos, baratear os recursos investidos. Eles terão que organizar o processo para intensificar a reciclagem, profissionalizando os catadores. De acordo dados do Ministério de Desenvolvimento Social, o Brasil conta com 1 milhão de catadores.
A seguir os principais pontos da nova lei
- Fim dos lixões
O lixo não poderá ser depositado a céu aberto. O material terá que ser reutilizado e reciclado. Só então, o rejeito poderá ser aterrado ou incinerado.
- Logística reversa
As empresas serão responsáveis por recolher, ao final de sua vida útil, os produtos que não podem ser reaproveitados. Estão incluídas as pilhas, baterias, computadores e lâmpadas.
- Reciclagem
O poder público terá que estimular ações de coleta seletiva e reciclagem, incluindo os catadores no processo. As empresas terão que elaborar produtos cuja composição seja reciclável.
- Casas em depósitos de lixoSerá proibida a fixação de habitações em depósitos de resíduos, assim como a atividade de catadores nesses espaços.
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