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sábado, 10 de julho de 2010

O dilema da reciclagem

EDITORIAL - [ 10/07 ]
O dilema da reciclagem
Notícia publicada na edição de 10/07/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet

Dez anos de experiência foram suficientes para demonstrar que, enquanto a sustentabilidade das cooperativas estiver condicionada à venda dos materiais coletados, será muito difícil impor metas de expansão, normas gerais e cronogramas

A coleta seletiva de materiais recicláveis em Sorocaba chegou a um dilema, cuja solução será fundamental para determinar se o programa poderá, em um futuro próximo, evoluir de uma atuação voluntária e limitada para a condição de serviço público eficiente e universalizado.

Iniciada pioneiramente em 1999 pela Cooperativa de Reciclagem de Sorocaba (Coreso) e mantida atualmente por esta e outras três cooperativas, a reciclagem de materiais conseguiu mudar os hábitos de parte da população - que se acostumou a descartar separadamente embalagens plásticas, papel, latas e vidro - e, pode-se dizer, despertou a comunidade para a relevância social, ambiental e econômica de se empregar pessoas carentes para retirar das casas os materiais que podem ser reaproveitados.

Apesar disso, e do apoio em infraestrutura oferecido em anos recentes pelo governo municipal, as quatro cooperativas respondem, globalmente, pelo recolhimento de apenas 1,8% das cerca de 4 mil toneladas de materiais recicláveis lançadas mensalmente no aterro sanitário, segundo informou na quinta-feira este jornal. Os restantes 98,2% seriam descartados no lixo comum, e, além de não proporcionar qualquer benefício para a comunidade, aumentam consideravelmente os gastos públicos com a coleta mecanizada e deposição final.

No momento, a expectativa é de que o custo da deposição seja mais que duplicado, já que a saturação do aterro sanitário e a falta de projetos alternativos para instalação de um novo aterro deverão obrigar a Prefeitura a “exportar” o lixo sorocabano para outras cidades.

Em linhas gerais, o dilema consiste em escolher entre ficar com o modelo atual, em que as cooperativas recebem investimentos estruturais da Prefeitura e tiram sua receita da venda dos materiais coletados, ou adotar um modelo em que as cooperativas, além de vender o produto da coleta, sejam remuneradas conforme a quantidade de materiais retirados das ruas, em patamar semelhante ao que é pago à iniciativa privada para a coleta do lixo orgânico.

O primeiro modelo, apoiado por três cooperativas, é proposto pela Prefeitura, que planeja a centralização dos trabalhos em uma área de sete mil metros quadrados e investimentos da ordem de R$ 5 milhões para que as cooperativas possam funcionar. O segundo, defendido pela Coreso (a maior de todas, que responde sozinha por mais de metade dos materiais coletados), está previsto no projeto de lei do vereador Izídio de Brito (PT) que institui o Programa Municipal de Coleta Seletiva Solidária, e que deverá ser votado na próxima semana.

Ambas as propostas têm seus pontos positivos, mas só uma oferece a perspectiva de universalização do programa, capacitando-o a beneficiar 100% da cidade. E é, obviamente, aquela que remunera os serviços, permitindo dessa forma a fixação de metas a serem atingidas, cronogramas e exigências quanto à regularidade, padronização e abrangência da coleta.

Dez anos de experiência foram suficientes para demonstrar que, enquanto a sustentabilidade das cooperativas estiver condicionada à venda dos materiais coletados - e, portanto, à capacidade de absorção desses materiais pelos compradores e às especulações com preços, comuns nesse tipo de mercado -, será muito difícil impor metas de expansão, normas gerais e cronogramas.

Não somente a remuneração da coleta é necessária, como também uma mínima qualificação dos coletores para que possam executar um trabalho voltado para o interesse da coletividade. E a população deve ser preparada para fazer a sua parte, já que o sucesso da coleta seletiva depende, prioritariamente, da separação dos materiais feita em cada residência.

Dessa forma, Sorocaba, que já tem um rio quase despoluído, poderá racionalizar recursos e caminhar para uma solução mais abrangente para o gravíssimo problema do lixo. E isso, sem jamais abrir mão dos benefícios sociais trazidos por uma atividade que proporciona trabalho e renda a quem não tem qualificação profissional.

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